A pedido do próprio (por motivos de apenas aqui constar o meu primeiro comentário à sua reportagem), aqui publico a totalidade da longa esgrima verbal que mantive, em Maio de 2012, com o Sr Dr Abílio Pereira de Carvalho, acerca de uma reportagem que realizou sobre a exposição de espantalhos no jardim de Castro Daire, pelos alunos da EB 2,3 de Castro Daire.
Exmo. Sr. Abílio Carvalho:
Vou aqui exercer o meu direito ao contraditório, relativamente ao que V. Exa vociferou nas suas incursões pelo «youtube» e respeitantes à exposição de espantalhos (palhaços no seu léxico) que está patente no Jardim da vila e que faz parte do plano anual de atividades do departamento de expressão artística desta escola.
Antes de mais, quero que fique bem claro que é uma reação estritamente pessoal e não vincula de forma alguma as posições de qualquer colega meu ou, muito menos, da gestão do Agrupamento de Escolas de Castro Daire. Sou um homem livre e isto é um exercício de liberdade, tal como V. Exa o fez nas suas reportagens.
Começo por lhe dizer que a sua atitude revela um provincianismo arcaico que tresanda a estado novo. Como pode V. Exa., sequer, atribuir a uma simples exposição de figuras feitas com materiais reciclados, numa atividade escolar de expressão plástica, motivo para fazer tão vil reportagem? Na escola da palhaçada, ensina-se de tudo, Sr. Abílio, inclusivamente expressão artística, em que o sentido estético pode ser educado através de instalações com materiais reciclados. Também se ensina Língua Portuguesa, Matemática, História e muitas outras coisas, nomeadamente, regras de civismo, tolerância e respeito pelos outros, conceitos que V. Exa resolveu ignorar na sua crónica de mal-dizer!
Você tem toda a razão quando diz que a Educação é uma palhaçada. Para mim também é, mas sabe porquê? Porque ela é tutelada há anos por políticos fajutos e incompetentes, que se estão nas tintas para a qualidade e interessadíssimos pela quantidade, impondo o facilitismo e a irresponsabilidade e obrigando os professores a pactuarem com isso para mascarar estatísticas. A Educação não é palhaçada, Sr. Abílio, porque um grupo de alunos e professores expõe uma forma diferente de arte, através de aproveitamento de (nalguns casos) lixo, e que provoca reações de admiração no comum do transeunte livre de preconceitos arcaicos como os que o senhor revela.
O seu respeitável currículo não lhe advoga o direito de se julgar culturalmente superior; a incapacidade que demonstra em entender um simples sátira política, sem qualquer laivo de má educação ou difamação pessoal, só outorga a sua inferioridade a esse nível.
O senhor já pensou em chamar palhaços a todos os humoristas, cronistas, colunistas que fazem sátira social? Não tem coragem para isso. Apenas a tem para se meter com crianças de 10, 11 ou pouco mais anos que se empenharam afincadamente para elaborar aquelas obras de arte que o senhor não tem capacidade para apreciar. O que o senhor fez, Sr. Abílio, é tão fácil como feio.
Julgo que se há palhaços nesta história toda, Sr. Abílio, lhe garanto que não são os pobres espantalhos que não fazem mal a ninguém.
A escola é dos alunos e dos professores, Sr. Abílio, não é dos políticos nem dos pseudorepórteres.
Ainda assim, reconheço que a sua atitude de crítica e desacordo nada tem de ilegal ou imoral e é um direito igual ao que eu tenho de exercer este contraditório. O que me choca profundamente, é haver gente com responsabilidade política que, ajudados por opiniões «velhas do restelo» como a sua, ordenaram a retirada de um boneco só porque tem uma sátira política vulgaríssima nos tempos que correm, e ainda por cima, carregada de razão.
Guarde o seu fel para coisas que se justifiquem caro colega. Não se enalteça, fazendo reportagens caseiras, à custa de um meritório trabalho escolar que, ainda que não goste, num direito inalienável que tem, procurou apenas dar algum colorido, alguma alegria e alguma boa disposição ao jardim de Castro Daire.
Uma coisa lhe garanto: se dependesse de mim, o enforcado seria exposto no mais nobre espaço da vila, onde nenhum político frustrado lhe pudesse tocar, nem que fosse bombardeado com pressões feitas pelas mais condecoradas figuras das artes e letras castrenses.
Não gaste mais das suas crónicas a vexar o trabalho de crianças. A arte é muito relativa, é certo, mas já não o é a incapacidade que se revela em manter a mente atualizada esquecendo que o 25 de Abril foi há quase 40 anos.
Paulo Carvalho
professor de EVT na Escola EB 2,3 de Castro Daire
Esta é a exposição
https://plus.google.com/photos/115247499410607173371/albums/5743959827768605761?banner=pwa
Esta é a ação do Sr Abílio Pereira Carvalho que levou à minha reação
Abílio Pereira de carvalho escreveu:
Lidas as primeiras linhas, e vista a orientação da narrativa, virada para a ofensa pessoal, parei. Em vez do esclarecimento pedagógico e cientifico relacionado com a «obra», nomeadamente a explicação dos objectivos educacionais pretendidos com o «espantalho enforcado» (chamei-lhe «palhaço, por ser tudo uma palhaçada) colocado junto ao Parque Infantil, sobre o que incidiram os dois vídeos, bem gostaria que a Exª Professora explicasse isso e dissesse a sua (dele) identidade colocada no B. I. que agrafaram na parte exterior bolso. Foram os professores, ou foram os alunos? Sobre o PROVINCIANISMO de que fala, ele fica bem expresso nestas duas narrativas: a sua e a minha. Outros, que não nós, seus autores, que as adjectivem, pela extensão e qualidade.
Abílio Pereira de Carvalho
O meu nome é Paulo Carvalho e sou professor (e não professora). Primeiro que tudo, não veja ofensa pessoal onde ela não existe e em vez de estar aqui a tentar saber qual de nós é mais cordato e educado em termos narrativos e, não deixando de entender o seu ponto de vista e, acima de tudo, respeitar o currículo que ostenta, apenas lhe deixo esta pergunta: se no decorrer desta atividade, o senhor, enquanto professor, visse um aluno a querer fazer esta sátira meramente política, o que fazia? Proibia-o? pois, por certo, não é? isso tem um nome Dr Abílio: CENSURA ou se pretender ser mais nostálgico, lápis azul!
Os alunos têm 10 e mais anos e sabem o que se passa na sociedade em que vivem e expressarem-se de forma livre é um direito que o 25 de abril lhes trouxe.
Termino, reiterando que não tenho o seu respeitável currículo, tenho metade da sua respeitável idade, mas tenho, pelo menos, a mesma educação e civismo que o senhor e exercerei o meu direito de resposta sempre que julgo necessário.
Os meus cumprimentos
Paulo Carvalho
Meu caro Professor:
Como nunca deixei pendurado sem resposta quem me contacta por via privada ou pública, aqui lhe respondo com a cordialidade com que sempre me relacionei com colegas e alunos:
PRIMEIRO: não é meu hábito, seja por palavras, seja por imagens, «fulanizar» as minhas críticas, a não ser que me obriguem a isso.
SEGUNDO: em nenhum dos vídeos publicados me reportei à escola ou escolas, apesar de me ter informado primeiro donde saiu a «obra-prima», o que muito lamento pois nessa escola deixei alguns anos de vida profissional.
TERCEIRO: se quiser dar lições de educação, de moral e ética, comece por rever o vocabulário que usa. Deixe de pessoalizar a questão, arrume o «vociferou», o «provincianismo arcaico», os «preconceitos arcaicos» os «pseudorepórtes», os «velhos do Restelo», o «estado novo» (linguagem que me recuso a classificar, nem entra na minha prática de escrita e social) e defenda a causa que o levou a «exercer o seu direito de cidadania e de resposta». Faço-o sem usar a má educação e ofensas pessoais ou de carácter, pois essa sua atitude mostra claramente o «provincianismo arcaico», o «estado velho», o «pretensiosismo» que evoca, olhando-se ao espelho.
QUARTO: eu próprio, quando no activo, usei materiais reciclados com os meus alunos levando-os a imaginar, a criar ou recriar coisa nova com coisa velha, seja o lixo reciclável. A reciclagem faz parte dos meus parâmetros mentais, seja a reciclagem material, seja e mental, quer dizer, quero viver a aprender e aprender até morrer.
QUINTO: mas já que, neste seu exercício de cidadania, em defesa do AGRUPAMEMNTO DE ESCOLA DE CASTRO DAIRE (chamar a si a opinião, não responsabilizando mais ninguém, é pura retórica, daí eu me ter dirigido à minha «INTERLOCUTORA») pretende dar lições de pedagogia, de história, cultura e arte, diga-me que obras produziu e publicou nesse domínio e, através do seu nome, eu procurar no GOOGLE tal título, a fim de a adquirir. Pois é por aí que eu entro na Biblioteca Nacional e vejo as «fichas» de arquivo.
SEXTO: a minhas «pseudoreportagens» puseram o enfoque no «ENFORCADO» e é sobre tal criatura, «criação» e expoente máximo de «criatividade», que eu desejaria fossem dadas, pública e responsavelmente, explicações sobre os objectivos educacionais relacionados com tal figura.
SÉTIMO: os meus trabalhos, crónicas e críticas públicas, são de adulto para adultos e jamais as dirigiria a crianças. Dizer o contrário, só quem ignora esses trabalhos, essas crónicas e essas críticas feitas ao longo de anos e pelos mais diversos meios. E quem ignora ou finge ignorar isso, senão mesmo deturpar, não pode dar lições de sabedoria e de pedagogia escolar ou social. Se pensa que evocando o 25 de Abril faz de si um democrata, era bom que lesse tudo quanto escrevi sobre esse evento e a postura pública e cívica que tomei a tal respeito. Mas com respeito, me despeço, se com respeito me tratam.
Abílio Pereira de Carvalho
Meu caro Dr Abílio Carvalho:
Já vi que apesar de desfasados na idade, temos algumas semelhanças, nomeadamente nunca deixar pendurado sem resposta quem nos contacta. Também o farei com a mesma cordialidade que evoca.
PRIMEIRO: Eu tive de «fulanizar» porque me dirigi a si; o senhor não fulanizou porque se dirigia a uma «obra-prima» que, tendo gente por trás, vai dar ao mesmo.
SEGUNDO: Eu não lhe dou lições de ética, moral ou educação e o meu vocabulário, que cita, sabe melhor que eu, pela formação que tem, que se trata de recursos estilísticos da língua chamados metáforas, usados para reforçar e simbolizar uma ideia que se quer transmitir. São tão pecaminosos como a sua «obra-prima» ou a sua «palhaçada». Ainda assim, considere-se vingado, pois devolveu-me os impropérios; acontece que já me olhei ao espelho e não vi nenhuma carapuça…
TERCEIRO: Diz que faz reciclagem mental… pois parece-me faltar-lhe uma cor no seu ecoponto: a cor do respeito pela liberdade dos outros. Aprende até morrer? Pois bem, ainda vai a tempo de aprender que a expressão livre é um exercício artístico inalienável dos alunos e é, em si, um objetivo educacional.
QUARTO: Já contava com os seus bicos de pés. Não o conheço, mas a vizinhança que o conhece já me vai alertando para essa sua prática. Ó Dr. Abílio então acha que a razão é diretamente proporcional aos livros que se escrevem? Acha que é porque tem escritos que aparecem no Google que tem o direito de achincalhar o trabalho dos outros, ainda por cima crianças?
SEXTO: Não cometerei aqui a indelicadeza de beliscar o seu currículo, que respeito, mas repetir-lhe-ei até à exaustão que isso não lhe confere nenhum direito sobre ninguém.
SÉTIMO: Finalmente, vou explicar-lhe devagarinho o significado simbólico do enforcado: trata-se de uma caricatura do primeiro-ministro (não do cidadão Pedro Passos Coelho) que perante um país endividado até aos dentes, se decide enforcar por não aguentar tanta dívida. O tema dos espantalhos era LIVRE e aquela turma foi livre e decidiu aquela temática. Que ofensa, meu Deus…
OITAVO: Sabe porque é que o Dr Abílio se entretém com reportagens, críticas e afins? Porque tem tempo para isso, gozando uma (acredito que merecida) aposentação, coisa que me parece, cada vez menos, eu e muitos milhares podermos almejar, por culpa deste e, sobretudo, de enforcados anteriores cuja forca não deveria ser em sentido figurado; em lugar da forca que mereciam ainda andam a filosofar à grande e à francesa com o meu dinheiro!
NONO: Já escreveu muito sobre o 25 de Abril? Pois ponha os calcanhares no chão, de vez, e admita que um democrata não denigre o trabalho dos outros. 25 de Abril é liberdade Dr Abílio e não me acredito que se eu lesse os seus frondosos escritos, encontrasse o contrário.
DÉCIMO: Se der o assunto por encerrado, eu também dou. Não se esqueça é que o primeiro pénalty foi seu e, portanto, o último será sempre meu!
ÚLTIMO: Gostava de o conhecer pessoalmente, pois tenho a certeza que em duas frases, concluiríamos que, se calhar, ambos somos boa gente e toda esta esgrima verbal se diluiria aos pés de algo que nem sequer se justificava!
Respeitosamente
Paulo Carvalho
Caro Professor
PRIMEIRO- A cada investida sua, cada vez me convenço mais que de comum, só temos o apelido. Os preconceitos que atravessam toda a sua argumentação (a passada e a presente) sobre a minha pessoa, colhidos junto dos seus vizinhos (leia-se de alguns colegas) cheira-me a conversa de soalheiro, de despeito, próprio dos medíocres, e nunca de troca de ideias de educadores com a elevação e o saber que deles se espera.
SEGUNDO — Todos os meus juízos críticos são submetidos à opinião pública e só assim é que se aquilata a liberdade de expressão, da educação e do fundamento das opiniões. Os livros dizem que uma coisa e «saber» e outra é ter «opinião».
TERCEIRO: No meu tempo de professor toda a actividade incluída nas tarefas escolares eram programadas segundo OBJECTIVOS GERAIS e OBJECTIVOS ESPECÍFICOS. A explicação genérica que me dá, em privado, sobre o «enforcado» bem gostaria que fosse tornada pública, mas segundo as regras de ensino-aprendizagem, isto é, acompanhadas da programação com os objectivos definidos, gerais e específicos.
QUARTO- A questão de querer atribuir aos alunos de 11 anos a iniciativa de tal ideia, para além de eu ter falado com os avós de uma criança participante, dizendo-me que ela «não sabia nada disso» a não ser ter participado e «estar triste por o terem tirado» de ao pé dos outros, é uma maneira de alijar as responsabilidades dos actos. E para professores é mau demais. Eu, como professor, jamais, usei os alunos para, através deles, transmitir ao público e aos políticos as minhas frustrações e angústias. E é tudo isso que ressalta dos seus textos, que tive o cuidado de imprimir, para, a qualquer tempo, poder demonstrar o que aqui afirmo.
QUINTO — Não atribua à minha aposentação as razões das minhas críticas e crónicas, pois, sempre exerci esse meu dever cívico, desde que me conheço. Fi-lo dentro da escola e fora dela. Está, pois, mal informado. A questão do meu currículo, foi você que o trouxe à baila, não fui eu. Mas, pelas suas palavras, parece que ele causa engulhos aos despeitados que o rodeiam. Mas isso não é novidade para mim. Esteja descansado por essa parte.
SEXTO — Se entende que tem razão, na questão levantada por mim (a do enforcamento), você e os seus pares, (foi nele que, por imagens e palavras, pus o enfoque nos meus vídeos) sugiro o transportemos esta nossa conversa para o domínio público e deixemo-nos de «razões privadas».A cidadania e a liberdade de expressão, em circuito fechado e/ou à mesa do café, ou em roda de maldizentes nas costas dos visados, é coisa que me nunca me atraiu. E como vê nunca usei o pomposo direito do «contraditório». Sobre o 25 de Abril estamos conversados. No tempo da outra Senhora, quem era contra, passava logo por comunista. Na democracia, quem discorda publicamente de uma atitude que nada tem de EDUCATIVA, é salazarento e faz censura e recorda-se que o 25 de Abril já foi há 40 anos. Atitudes dessas são do domínio da cultura e da psicanálise. Não vou perder tempo com elas.
Cordialmente
abílio pereira de carvalho
Caro Dr Abílio:
Então a questão do seu currículo fui eu que a trouxe à baila, hein? Passo a citar – «diga-me que obras produziu e publicou nesse domínio e, através do seu nome, eu procurar no GOOGLE tal título, a fim de a adquirir. Pois é por aí que eu entro na Biblioteca Nacional e vejo as «fichas» de arquivo» – citei – precisa de mais alguma coisa?. Não me faça rir, caro colega!
Dado que também não pretendo perder mais tempo com esta autêntica conversa da treta (olhando ao motivo que a despoletou), e algum enjoo começo a sentir dela, termino-a dizendo que estou, obviamente, disponível para debater esta questão consigo quando e onde quiser. Se isso acontecer, os ouvintes ficarão com duas certezas: um de nós ganhará em prosápia e o outro demonstrará que um espantalho feito por crianças jamais poderá justificar tal atitude.
A montanha não passa de um rato, meu caro!
Cordialmente
Paulo Carvalho
Meu caro Professor:
Ainda vou disponibilizar algum tempo para esclarecer este assunto.
Em que parte do texto que transcreveu eu me refiro ao meu curriculo?
Explico melhor a razão da minha sugestão: houve em Castro Daire um senhor
com laboratório em Lisboa do qual eu ignorava tudo. Sabido o seu nome,
recorri ao Google, Biblioteca Nacional, e vim a saber tudo sobre ele.
Obras publicadas no domínio da farmacopeia e por aí adiante.
Pode ver esta explicação desenvolvida no meu site «www.trilhos-serranos.com»,
cujo texto tem já muito tempo. Não falo ou escrevo ao sabor das
circunstâncias do momento. Verá que de outra forma, a não ser pelo caminho
que sugeri, o Google, eu jamais traçaria a Biografia de tal pessoa. Mas eu
falei som sinceridade e sugeri o caminho certo. O caro professor, com os
preconceitos que tem encaixados na cabeça e certamente influenciado por
alguns dos seus «vizinhos» foi logo para o meu currículo. É que o meu
curriculo, posto por mim, nem sequer está no Google. Está, isso sim, no meu
site, botão AUTOR. E eu não remeti para lá, o colega. Nem remeto. Apenas
informo para evitar mais equívocos.
Não há pois uma vírgula na frase que transcreveu que o autorize a dizer que
fui eu que trouxe à colação o meu currículo. Esclarecido? Custa-me estar a
ter esta conversa com um colega, mas deixar as coisas equivocadas ou
deturpadas é que não faço.
Cordialmente
abílio pereira de carvalho
Dr Abílio:
Eu já estou esclarecido a seu respeito. O que me parece é que ainda não está esclarecido em relação a mim. mas eu esclareço-o em duas linhas:
Sou um simples e discreto professor que, enquanto cidadão cumpre os seus deveres cívicos e enquanto docente, desempenha a função o melhor que sabe e pode, defendendo os alunos e a escola pública contra quem quer que seja, chame-se Abílio ou Crato ou outro qualquer, e nunca abdicarei de exercer o contraditório relativamente às minhas convicções. Parece-me que aí somos parecidos.
Tu o resto, meu caro, é floreado, e termino reiterando que nada de pessoal me pode mover contra quem não conheço. Apenas respondi a uma crónica que achei despropositada contra uma simples forma de expressão. Fá-lo-ei sempre em nome da liberdade de expressão… verbal e artística.
respeitosamente
Paulo Carvalho
Caro Profesor
Pois, nesse aspecto de dizermos o que há a dizer, temos sim senhor, algo de comum. Isso agrada-me e felicito-o por isso, isto é, não deixarmos as coisas pela calada dos bastidores, ainda seria melhor. Só que, efectivamente, se estamos esclarecidos no que respeita a nós próprios (e como nada conhecia de si quando lhe falei no Google, mais razão me dá, por nele ter falado) o mesmo não acontece com a matéria que foi objecto dos meus vídeos. Falta esclarecer os OBJECTIVOS EDUCACIONAIS que levaram à lição do ENFORCAMENTO simbólico junto de um Parque Infantil. Falta a publicação da PLANIFICAÇÃO da tarefa, explicitando esses objectivos. Mas eu adianto dois objectivos gerais, tendo em atenção a matéria os sujeitos da aprendizagem: «1 – conhecer a importância dos espantalhos na cultura camponesa».2 – sensibilizar os para o aproveitamento de materiais recicláveis». Objectivos específicos: 1- enforcar um espantalho no jardim; 2 – fazer um nó adequado na corda enrolada para melhor resultado; 3 – ajustar o laço ao pescoço; 4 – retirar o banco dos pés para melhor efeito.
Chega? Dito isto, e se a tarefa não foi planificada assim, como foi? É por isso que insisto, por mais voltas que dêem, que as vossas frustrações e angústias, sejam veiculadas através das crianças, contra o Crato, como ainda agora o fez ao dizer que sempre reagirá contra mim ou contra ele, vamos dar sempre no mesmo. O enforcamento ali, onde foi feito, não tem centelha de ACTO EDUCATIVO. Cordialmente abílio pereira de carvalho
Boa noite Dr. Abílio!
Pois que esta já longa troca de «galhardetes» acabará, como constato, por esclarecê-lo.
Politicamente, tenho asco, sim senhor, de todos os políticos criminosos, corruptos e incompetentes que nos últimos anos envergonham o país, atacam a Educação e a escola pública e até lhe confesso que sou daqueles que ainda atribui uma réstia de benefício de dúvida ao atual executivo, pois herdou aquilo que o maior delinquente político da História de Portugal deixou. Mesmo com essa aversão a políticos, o enforcado nem sequer era de uma turma minha e confesso que nem reparei nele particularmente antes desta polémica.
Educacionalmente – o que interessa de facto nisto tudo – onde o senhor erra clamorosamente é no facto de se esquecer que o «enforcado» é um de 27 espantalhos expostos. Podia ter feito 27 vídeos… ou melhor 54, pois fez 2 do seu «favorito». Seguindo o seu critério de ausência de conteúdo educativo, porque se meteu apenas com um? Se o critério foi político, havia lá, pelo menos, outro com a mesma temática. Foi pela corda? Pois se calhar houve pessoas que acharam mais chocante a sanita do pescador! Preferiram, no entanto, aplaudir a criatividade!
Meu caro Dr. Abílio: de uma vez por todos, veja o famigerado «enforcado» como apenas mais um dos 27 espantalhos. Foram de muito mau gosto (ai se era eu!) esses objetivos específicos que traçou. Gostei sim da sua proposta de objetivos (agora transformados em competências) gerais, que não distam dos que programámos, mas os específicos eram centrados na expressão artística livre e acredite que foram atingidos na plenitude, porquanto alguns alunos optaram por flores, outros por agriCOOLtores, outros por bailarinos, outros por sátira local (habigato por exemplo) e outros por… sátira política bem atual. Por isso mesmo a atividade foi, aliás ainda é, um sucesso rotundo.
Posso enviar-lhe, se quiser, a planificação da atividade para constatar o caráter livre da mesma.
Se o Dr. Abílio tem algum preconceito ou trauma pessoal relativamente ao primeiro-ministro ou a forcas, diga-me que me calarei para sempre, pois respeitarei tal facto. Se não tem, faça o favor de se retratar, falando a partir de agora (pois já vi que isto está para durar) na exposição total e não numa das 27 figuras.
Se quiser fazer uma «youtubagem» da exposição toda eu estou disponível para seu guia.
Respeitosamente
Paulo Carvalho
Caro professor, você pode deambular por onde quiser, dar a volta ao mundo muitas vezes, preencher páginas de palavras, mas não me faz desviar do essencial para me perder no acessório. Os livros por onde estudou são seguramente diferentes dos meus. Apesar de ter classificado o meu trabalho de «pseudoreportagens» (repare que só agora falo de mim) saiba que dei jornalismo e sei distinguir, para notícia, o que, no conjunto, destoa dos valores que devem ser veiculados pela EDUCAÇÃO. Diz-me que isto está para durar. Não está, não. Se quiser continuar terá de ser em circuito aberto, onde defenda a sua concepção educativa e pedagógica e eu defenda a minha. Tenho tanto que fazer que nenhuma CONVERSA DE SURDOS me entusiasma. Mas gostava de ver, seja qual for a terminologia usada, a planificação que levou ao ENFORCADO», pois na educação e na vida todo o acto humano que não seja inútil passa por um «processo» até chegar ao «produto». O produto físico está à mostra, o processo para atingir as tais «competências» e «aptidões» dos alunos é que eu gostava de ver publicado num qualquer livro ou revista da especialidade. Aqui não vale a pena.E no esboço da planificação com objectivos gerais e específicos, também, no meu tempo, operativos, só faltou «bater palmas, enquanto o enforcado esperneia». Veja o ridículo da tarefa e do acto que persiste em defender como educativo.
Vá lá que deixou cair a questão da censura, da minha mentalidade arcaica, e da minha impreparação para entender a arte feita com material destinado ao lixo e incapacidade para entender a liberdade e expressão artística.
De qualquer modo, faço minhas as suas palavras, isto nada tem de pessoal, pois nem sequer nos conhecemos. E até o felicito por ser o único professor que, com nome e rosto, se dignou assumir a defesa daquilo que, insisto, não é DEFENSÁVEL pedagogicamente. E tanto não é que o «boneco» voltou ao Jardim e não tiveram a coragem de repetir o acto. E voltou bem, pois eu sabia de pelo menos uma criança que estava triste por não ver o «espantalho» em que participou na exposição. Agora já não estará triste e isso me alegra a mim. Por isso, e pelo resto, dou por encerrado o nosso diálogo, se é que não foi um monólogo. E também quero retribuir o ensejo que fez de me quer conhecer pessoalmente. Não é difícil, ando sempre por aí, pela vila, e toda a gente sabe os lugares onde paro. É só procurar-me.
Cordialmente
abilio pereira de carvalho
Caríssimo Dr Abílio:
Também terminarei este diálogo (para mim foi um VERDADEIRO diálogo), não sem antes lhe dizer o seguinte:
Para além de umas incursões no seu «trilhos-serranos.com», sítio web que presta um louvável serviço à História e cultura locais, fiz também outras incursões pelo seu percurso académico e pela sua obra literária. Pelo que constatei, não será por certo a «despeitada vizinhança» (citando-o ) que o conhece que me impedirá de reconhecer o seu inegável mérito. Pessoas que fazem o que o senhor faz, a esse nível, terão sempre o meu louvor!
Uma coisa é o Dr Abílio que referi, outra coisa é o autor das reportagens que motivaram toda esta dialética.
E voltando a ela, à «vaca fria», os nossos livros serão, por certo, diferentes. Aliás, dou de barato que, em livros, nem perto de si quero chegar. Os livros são quase a sua vida — e ainda bem — mas a minha tem outras coisas para mim muito mais valiosas.
Caro Dr Abílio, você pode deambular por onde quiser, dar a volta ao mundo muitas vezes, preencher páginas de palavras, mas não me faz desviar do essencial, ou seja, não há planificação do enforcado. Há planificação da atividade total (elaboração e exposição de 28 espantalhos) e até no nosso site (http://www.aecastrodaire.com/index.php/escolas/escola-basica-23/atividades/153-expo-espantalhos.html) isso facilmente se depreende.
Eu não deixei cair a censura; reitero que a sua reportagem só não é um exemplo dela, porquanto ela não existe em termos práticos (estamos, ou deveríamos estar , num país livre); Contudo, quando alguém de responsabilidade manda retirar o espantalho, pois se não é censura é um qualquer sinónimo. Não me parece que tenha condenado tal atitude Dr Abílio.
O «enforcado», agora sem forca, voltou e o senhor acha que não tivemos coragem de quê? Como é possível!!! Lembra-se do que lhe disse no primeiro mail? Por mim o enforcado estaria nos Passos do Concelho. Mas nada tenho a ver com esse espantalho em específico, como também já lhe disse.
Mas se uma criança que seja, ficou feliz com o regresso, aí concordo plenamente consigo. Fazer crianças felizes é o primeiro fim da Educação. E utilizando esse critério, caso ainda esteja na disposição de me responder, pergunto-lhe: qual dos nossos atos contribuiu mais para isso?
Terei, pois, todo o gosto, em um dia destes que se proporcione — e acredito que será inevitável, apesar de não ser de cá — nos encontremos, e numa conversa de cavalheiros eu possa aprender mil coisas consigo, mas o Dr Abílio possa aprender uma comigo!
Respeitosamente
Paulo Carvalho
Caríssimo colega: não sei se lhe respondo em duplicado, pois escrevi-lhe através do Ipad e fiquei com a impressão que o correio não seguiu. É só para lhe dizer que relativamente à primeira parte da sua missiva não me pronuncio, a não ser para dizer que quem reconhece o mérito do trabalho alheio, reverte para si o mérito reconhecido. Relativamente à retirada do «boneco» e CENSURA, eu não tive nada a ver com isso. De resto sempre e só falei de EDUCAÇÃO, de acto EDUCATIVO e nunca de política. Se as coisas derivaram para aí não podem assacar-me essa responsabilidade.. Sobre o facto de eu me ter virado apenas para o «enforcado» e não para toda a exposição como referiu antes, far-me-á a justiça de eu ter feito tal como fizeram os profissionais dos média que vieram fazer notícia do caso. Os dos jornais e TVs. Eles profissionais, eu um simples cidadão com algum traquejo na matéria, pois exerço (agora já posso falar de mim) a cidadania crítica há muitos anos. Dou o caso por encerrado e se lhe agrada, apareça quando quiser. Verá que não sou o «sarnoso» que alguns, por despeito e mediocridade, pintam. Cordialmente abilio pereira de carvalho
Muito bem Dr Abílio!
Pois que da minha parte seja também encerrado o caso e garanto-lhe que, se o motivo que o motivou é injustificado, já o não é, o facto de ter tido o privilégio de trocar palavras (ainda que com cordialidade crescente e ainda bem, pois o contrário é que nos diminuiria) com alguém com a sua cultura e capacidade argumentativa. Uma falha ou outra todos temos…O senhor teve a sua, na minha opinião, e caso encerrado!
Termino, cometendo a ousadia de o convidar para, quando quiser vir aqui à escola e, quiçá, compará-la com a que deixou, aferindo avanços e retrocessos (ambos estão garantidos) e, obviamente conhecermo-nos e conversarmos um pouco. Terei todo o gosto nisso!
Lembra-se do último penálty ser meu? Pois bem, dado que neste «jogo» a minha intenção não era ganhar nada, mas apenas vincar uma posição e essa julgo-a conseguida por palpitar que nos percebemos um ao outro, não me ouvirá (neste caso, não me lerá) mais uma palavra acerca deste assunto, a não ser pessoalmente!
Acabou por ser um prazer conversar consigo!
Respeitosamente
Paulo Carvalho